31 agosto 2006

Inquietações sobre o "Efeito Borboleta"


Um professor de Física me chamou, nos meus 17 anos, em plena aula, de "inteligente preguiçosa". Falou isso pois achava que eu poderia ter ido além daquela resposta que dera em um trabalho de experimentação. Falou-me isso porque achava que eu podia MAIS. Eu havia acertado a resposta, mas ele queria mais de mim. E, no seu julgar, achava ele que eu podia ter ido mais além.
Meu professor de física foi um exemplo para mim. Uma pessoa que me chamou a atenção para um fato ao qual levei anos para entender. Disse-me aquilo com uma intenção: a de me fazer pensar que poderia ir além, que eu tinha condições de sair daquele patamar mediano em que me encontrava. Só que o que me chocou foi a FORMA com a qual ele se dirigiu a mim: "inteligente preguiçosa".
Sensível que sou, fiquei feliz com o "inteligente", mas, ao mesmo tempo, senti-me totalmente incapaz, devido ao "preguiçosa".
E se ele não tivesse me dito aquilo? E se ele tivesse se limitado a me aprovar, sem nenhuma ressalva ou restrição? E se ele tivesse dito "parabéns, você acertou, e tem condições de me dar uma resposta ainda mais interessante"?
Aquilo foi como se ele me presenteasse uma medalha ao mérito pela metade. A outra metade ficara para o meu desejo, para a minha imaginação querer ir buscá-la, onde ela estivesse. Ele queria que eu me movesse nessa direção...só que as PALAVRAS que ele usou para se fazer entender eram palavras pesadas demais para mim.
Por isso é preciso muito cuidado no uso das palavras. Você tem a liberdade de dizer o que pensa, fazer seus julgamentos...mas nunca saberá o efeito que suas palavras podem provocar em pessoas mais sensíveis ou mais frágeis do que você.
(Da série Mitologias, sem título, acrílica s/t, 1997.

Lendas de cozinha e glutões

A cozinha é o lugar ideal para cozinhar (lógico!)e debater os altos problemas da humanidade. Enquanto a gente escolhe, lava, descasca, pica, penera, amassa, bate, assa, cozinha, o mundo lá fora acontece.Melhor é discutir de avental e faca na mão. E, na cozinha, sempre se acha uma solução, tudo fica mais fácil. eu acho até que vou levar o meu computador para a cozinha. Já tenho TV e som. Vou levar a minha cama para a cozinha também. Trocar receitas é um ato de profunda amizade. Eu cedo a você um segredo de sabor que me faz feliz, eu reparto com vocês uma felicidade simples verdadeira.
"Vamos comer, ninguém sabe o dia de amanhã, e eu quero morrer de bucho cheio."
Meu irmão mais velho, o Tuio, fala desse jeito. Um tanto quanto grosseiro falar assim, mas é autêntico, não? Isso ele "herdou" de meu vovô Artur, que entre outras coisas, comia a sobremesa no mesmo prato onde acabara de comer seu almoço. E ria do nosso olhar escandalizado:-"Vai tudo pro mesmo bucho."
Lá na terra das coxilhas, e mais particularmente onde as coxilhas se transformam em serra, existe um negócio chamado "café colonial". Vocês com certeza já ouviram essa lenda. É filme de terror para os nutricionistas, uma vez que essa "refeição temática" não se encaixa em nenhuma das tres refeições que normalmente fazemos diáriamente. Aliás, é uma mistura de todas elas. Chamar aquilo de "café" é piada. Parece que baixam à mesa tudo que há na geladeira e na despensa. Falta mesa para tanta comida...Para os glutões de plantão, é um banquete: pães de diversos tipos e formas, bolos e tortas de vários sabores e calibres, biscoitos com ou sem recheio, embutidos fatiados de animais variados (inclusive a fétida morcícia, em suas duas versões), queijos coloniais e de procedência incerta, chocolate quente, chá, e, é claro, o café. Bom, esse é o básico, mas existem outros com muito mais variedades de guloseimas.Sente à mesa dessas e reze, de antemão, 150 "Padre Nossos" e 235 "Ave Marias", para pedir perdão antes de cometer o pecado da gula.
(E continua uma outra hora...falar de comida é tão bom! A ilustração eu tirei de uma antiga revista Country Living.)

Aquarelando em Ilhéus

Se pudesse escolher, moraria em Ilhéus. Nem sei o que faria, profissionalmente falando, por lá...mas daria um jeito de sobreviver. Quando a paisagem é essa, esse verde-mar, junto a esse céu azul e à brisa leve, mais da metade da vida já está ganha. Seria preciso sómente muito pouco para completar o dia-a-dia. Muito pouco.

Da sacada da Pousada do Kalifa eu pintei esta aquarela. O dono da pousada é um egípcio de sotaque carregado. Que coisa, não lembro o nome dele nem o da simpática esposa, que sempre nos atenderam tão bem nas 5 ou mais vezes que lá ficamos...mas não importam os nomes, agora.

Uma senhora sentou ao meu lado, na hora em que pintava, e ficou a observar e fazer perguntas sobre as tintas...coisa que até gosto que aconteça, mas preferiria ficar só com meus pensamentos coloridos.

Quando começo uma aquarela não consigo pensar em outra coisa que não seja aquilo que estou fazendo: com o pincel, água, o estojo de pastilhas coloridas...o deslizar suave dos pelos sobre o papel rugoso...é como um ritual, que não pode ser interrompido por nada nem por ninguém.

Por instantes esqueço que existo. Por instantes esqueço de todo o resto. Mergulho o pincel na água e na tinta...e mergulho na paisagem, ou seja lá o que vier para aquele branco do papel à minha frente.

30 agosto 2006

O mal do gardenal (da série Rimas Ridículas)



gardenal rima com normal
mas isso não interessa
estamos em tempo de crises
para que toda essa pressa?
E se a palavra atrapalha
desbanco aqui essa rima
pois normal é ser imbecil
como essa rima aí de cima.
(A aquarela aí de cima foi feita num momento-gardenal. Pode ter sido até psicografada, mas eu não garanto nada...)

Stand By (Me)


A minha mãe sempre me dizia que eu vivia no mundo da lua. E falou tantas vezes isso daí, que eu fiquei meio aluarada...e fico em stand by de vez em quando.
Esse estado, stand by, é altamente produtivo, e eu nem sabia como! Ficar assim, por uns dias, sem nada fazer, só pensando, pensando...ou nem isso.Pego uma revista nova e lá está escrito: "há sabedoria no ócio."
Pronto.
Já tenho a minha justificativa, e nem mesmo precisava dela, pois, para quê justificar o quê não se está fazendo?
Ah, e o beija-flor aí em cima não tem nada a ver com isso.

Convivendo com pelos e penas

Mya, Kiko e Kika (Biba)
Todos se dão bem...

Da janela eu via a praça


A praça era nossa.
Vivíamos lá, no tempo em que os bancos, de cimento, gelados, gelavam o nosso traseiro.

Mas quem se importava?

Reclamávamos da má iluminação, dos "maconheiros" e bêbados noturnos, aqueles, que depois iam beber água na nossa torneira do jardim.

Praça Amadeo Rossi.

As árvores...como cresceram!
Da janela, na hora do almoço, era a minha paisagem.
Todo santo dia.

Desde que o pinheiro foi derrubado, então, a paisagem, desobstruída, ficou completa. Mas aquele pinheiro não me sai da memória. Nem aquele ninho de órfãos que dele caiu.

Mas há muita coisa para lembrar e muita coisa para esquecer. Só que é incrível como a Praça se mantém, apesar de todos esses fantasmas que a rondam. Deve ser uma espécie de encantamento...

(Na foto, a aquarela que pintei em 1998, sentada num banco da praça. A janela ao fundo é aquela por onde eu a via como paisagem, todo santo dia, na hora do almoço.)

Músicos Pintantes

Ouço música
E tento extrair dela
as cores que preciso
para meus pensamentos.

Ouço música
mas não a entendo
não sei como funciona
a nota musical
sem a cor.

Cada nota,
uma cor.
Quantas notas existem?
Quantas cores existem?
Mistério.

Minha paleta, vazia, pede notas e cores.
Quero começar o meu dia.

(Na foto, aquarela-colagem, inacabada. Não sei quando comecei, faz muito tempo. Nem sei quando vou terminar...mas...prá quê a pressa? Enquanto isso, ouço música. Muitas.)

29 agosto 2006

Ai, a política!

Putz, tou de saco cheio de ouvir falar de política. Que lugar comum essa minha frase.
Mas não tem como dizer isso de outra maneira. O saco, inexiste, mas está cheio. Cheio de ouvir resultados de pesquisas, de ler blogs políticos para ficar atualizada na matéria - afinal, isso vai acontecer, e é o mínimo que posso fazer por mim, para não ficar de fora da roda da história do país onde resido e vivo.

Aquela estória de voto facultativo é que me interessa. E o voto distrital também. E a eliminação dessa porrada de partidos e sua siglas ridículas. Imagine...mas o que é que eu estou fazendo aqui, às seis e tanto da tarde, escrevendo sobre a merda da política? Eu quero é botar o meu blog na rua...escrever minhas memórias, minhas estórias de pescador, minhas estórinhas prá boi dormir...e tou aqui. E vou começar. Todo mundo tem um blog, e eu também quero o meu. Posted by Picasa

Browned Eye Woman




Castanhos.

São castanhos.

Olhos e cabelos.

Castanhos da cor da castanha.

Mas não é a castanha-de-caju.

É aquela outra, de casca dura.

Muito dura.

Muito mais castanha.

A Culpa é da Genética!



Quisera eu ter azuis
Mas são assim, cor de melado.
Se o sol bater de frente,
Ficariam meio-verdes,
Mas também, meio fechados.


Quisera te-los azuis
E lábios de Angelina,
Cabelos lisos e brilhantes,
Pele sem manchas herdadas
De uma família de sardas.

Quisera pernas mais longas
E seios bem mais redondos
Do tipo tiro-ao-alvo,
Empinados, firmes, rosados.

A Genética, essa madrasta
Me deu estes trejeitos.
Tem alguns que me acham Linda
Até sem defeitos ainda.

São os olhos de cada qual
Mas nisso eu não me engano
Sei que a entropia pia
E os radicais estão livres.


(Na foto, uma colagem digital, uma brincadeira de faz-de-conta. faz de conta que sou essa daí, tá? E viva o Photoshop!))

28 agosto 2006

Há muito tempo...


Tenho esse bordado há muito tempo, nem lembro desde quando.
Comprei-o em uma lojinha de badulaques andinos, num shopping lá em São Léo. Acho que ela - a lojinha - nem existe mais. Ficava bem próxima daquela onde a minha amigona Berê vendia suas peças, juntamente com aquelas outras do grupo de artesãs da prefeitura.
Eu ia mandar fazer uma moldura, mas, prá variar, sempre me esqueço...e este paninho vive por aí, em qualquer lugar pela casa ou pelas casas que já morei. E já foram muitas moradas...em São Leopoldo, foram tres apartamentos. Em Itapetinga, duas casas e um apartamento. Em Vitória da Conquista, já estou na segunda casa...e acredito que não termine por aqui, ainda. Ainda terei de mudar mais vezes e começar de novo, de novo.

Mas o paninho bordado me acompanha, como se fosse algo amarrado, colado em mim. existem coisas que, por mínimas que sejam, a gente dá muito valor, mesmo sem colocá-las no seu devido "altar". Ainda não coloquei o paninho em sua moldura prometida, mas, a cada vez que remexo em minha tralhas, lé está ele, meio encardido, meio escondido entre os livros dentro das caixas de papelão. Ele está ali prá me lembrar de algo. E desconfio que o que ele quer me lembrar seja que ele está ali simplesmente porque deveria estar, como se fizesse parte de tudo isso, esses começos e recomeços, essas mudanças e novos paradeiros, esse entra-e-sai de minha vida, que chega a um ponto divisor de águas.

Esse paninho bordado me lembra do que eu fui antes de estar como estou hoje. Ainda bem.