21 fevereiro 2009

Descongelando

Congelamos para usar depois, essa é a regra.

Congelamos para manter a coisa a salvo da degradação.

Mas o freezer da memória está lotado.

E há de chegar o dia de esvaziá-lo e limpá-lo.

17 fevereiro 2009

É hoje!

Todo o dia eu digo isso para mim mesma: é hoje.

É hoje que eu volto.

Mas está difícil voltar a escrever.

Vamos ver o que acontece amanhã.

E por hoje é só.

14 fevereiro 2009

Descongelando

E eu não estava mais nas ruas, nem no cinema, nem no super, nem na locadora, nem na pizzaria e muito menos na padaria. Por anos eu não estive na feira da rua da Igreja do Relógio, com meu carrinho metálico retrátil, comprando alface roxa e laranjas de umbigo. Por anos não andei de bicicleta com meus filhos, em busca de amoreiras à toa e buquês de início de primavera.

Estava fora, morava fora. Fora de casa, fora da terra natal. Por aí afora, diriam outros menos chegados. Prá onde ela foi, mesmo?, perguntariam alguns curiosos distraídos.

Bem, posso dizer que eu estive fora. Fora do contexo.

Assim como isso que quero escrever está fora de meu alcance - está difícil sair - das minhas possibilidades, eu estive fora do alcance da visão.

E como uma morta meio viva, ao final de cada ano, eu surgia como numa aparição, vinda sabe-se lá de onde, pois esse onde era tão longe e tão desconhecido que quase não conseguia descrevê-lo para quem quer que desinteressadamente me perguntasse. Eram estradas que ninguém daqui passava, eram flores que ninguém daqui colhia, eram frutos que ninguém daqui comia. Contabilizava as novidades, as maravilhas e feitos como se fossem dádivas divinas. E que acreditasse em mim quem assim o quisesse. Histórias foram feitas para serem contadas, mas só quando há quem as ouça atentamente.

Assim eu começava a descongelar, aos poucos. Mas sabia que aquilo era passageiro, que logo, logo voltaria ao freezer. Mantinha-me resfriada, sem tocar nada que pudesse me tirar de meu estado de suspensão interno.

Com muito orgulho - e muito esforço - eu explicava: "Este lá-onde-moro existe sim, só que não se sabe, aqui, que ele existe. Para lá fui chamada à uma nova oportunidade, para uma experiência, para dar seguimento a um processo de crescimento interno. Mas nem tudo foi fácil. Vejam minha face: também há rugas."

Estive fora da terra. Quis ser uma corajosa pioneira, uma visionária, uma exploradora. Consegui uma parte disso. Ou seja, alguém comum, mas alguém comum fora daqui, distante de tudo e de todos, num lugar onde tudo e todos eram simplesmente outros.


De um lado, fico muito feliz em estar de volta à terra. De outro, sinto dores inexplicáveis ao percorrê-la. Descongelando estou para algo que jamais poderia ter-me congelado. Por lealdade, por fazer parte, por amor.