26 outubro 2009

Eu tango com a vassoura

Vassoura na mão,
no meio da sala estou.

(Mas antes abrira as janelas para olhar a manhã chuvosa. As calçadas deslizam suas pedras. Os olhos da chuva são azuis.)

Vassoura na mão,
ar no peito,
um punhado de pó.

Há algo de errado no meu paraíso,
mas eu assim preciso.
Uma dança me espera.

Miro a flor, que ali há o sol.
Aperto o botão e o amarelo salta ao olho.
Uma janela se abre
e algo no ar me diz como agir.

Um para cá, dois mais além,
tres adiante.
Eu sigo um compasso
ditado ao ouvido
pelo violino-fantasma.

("perdoe, maestro, meu estranho ar!")

Eu é que devo - como sempre - conduzir meu par.

25 outubro 2009

Dia de faxina

A casa estava totalmente fechada. Portas e janelas fechadas. Há muito ninguém entrava ali.

Como esse blog.

Fechado. Empoeirado. Cheirando a mofo.

Hoje eu vim aqui só para trazer uma vassoura.

01 outubro 2009

Dia de escrever

Tarde de chuva e na tv, "Marley & me" pela segunda vez.

Pela segunda vez. Só.

Não sei quantas vezes eu já tentei novamente. Não falo de ver o filme, falo de minha busca e daquilo que sou atualmente: uma artista tentando voltar a acreditar em sua arte. Perdi as contas de quantas vezes sentei à beira do caminho e fiquei ali, sem ir nem vir. Perdi-me tentando encontrar o fio que me unia à minha veia jugular criativa.

Aí Anabela bate a cabeça na parede. Leva a mão onde dói e pergunta "mãe, a parede é mais dura do que o chão?", e eu digo um "acho que é tão dura quanto" e então a coisa começa a acontecer. Muitas perguntas. E eu tenho que responder a todas elas.

Vejo tanta coisa acontecendo à minha volta, digna de registro. Mas isso só acontece quando eu me aquieto e esqueço o meu drama atual. Parece que estou presa num limbo, que só vejo a um palmo diante do nariz, ou só percebo coisas num raio muito pequeno ao meu redor. Há uma constante nuvem de chuva sobre a minha cabeça - como num cartoon antigo -, mesmo em dias de sol.

Tia Ivone disse-me que estou num ano péssimo e que isso vai passar somente depois de meu aniversário. Coisas da numerologia. Acho que eu não devia ter ouvido isso...acreditando ou não, até o final de dezembro, o que eu faço?

Pensando bem, melhor acreditar e girar o botão da paciência até o máximo. No final do ano, então, vou poder finalmente respirar-me de novo.