28 julho 2011

Ora, xícaras!


Ganhei uma xícara de presente em meu aniversário. Uma xícara alta, esbelta, com belos desenhos exotéricos impressos em tons de laranja, amarelo e azul, representando o meu signo, capricórnio. Gosto dela, tem uma boa alça, é de louça com a borda fina, nada a ver com essas xícaras de bordas grossas, que deixam a gente queimar os lábios quando o líquido está muito quente. Com a borda fina a gente logo sente a temperatura do que está dentro.

Xícaras. por que falo de xícaras? Ora, foi o objeto da hora. Estava ali e eu aqui.


Queria escrever, voltar a escrever. Me atenho àquilo que está mais próximo de mim, para procurar algo que está longe. Se eu escrever sobre a xícara, coisa simples e corriqueira - e sem graça - talvez minha cabeça comece a funcionar novamente. Minha cabeça está meio gelada. Minha cabeça está pobre de idéias. Minha cabeça está muito cheia de vazios desconectados, câmaras estanques, sem comunicação. Meus neurônios só se espreguiçam.

Então que resolvo escrever o que me vem à cabeça, nesse espreguiçamento neuronial. Neuronial existe? Sei lá. Nem vou pesquisar. O importante é que estou aqui, olhos fixos no teclado. Não deveria nem ler o que escrevo, prá não me atrapalhar. Idéias, o que são, afinal? Idéias seriam faíscas, como aquelas que pairam e dançam acima de fogueiras, acesas - ou não - em dia de folia de São João. Idéias vem e vão. Idéias somem de repente e igualmente aparecem.

Martha M escreve na sala, no meio de tudo. Duvido. Será que ela escreve com a tv ligada no x-games, com aquela narração das manobras em portunglês? Será que ela escreve quando tá de TPM? Será que ela escreve com a filha à sua frente tagarelando meninices, coisas de bonecas e panelinas, pedindo para jantar sanduíche com nescau?

Hoje me sinto horrível. Me sinto cinza.

- Gostou da roupinha dela, mãe?
- Olha meu cachorrinho, mãe!
- Gostou do biquini dela, mãe?
- Adivinha, mãe, o que é que eu tenho nas mãos?
...

Levanto a cabeça, olho por cima dos óculos. Faço aquele ar de "interesse". Respondo a todas as perguntas usando sómente duas palavras. São 10 e tanto, quase 11 da noite. Eu tento. Marta M, se me visse agora, o que me diria? Vou fazer um chá. Vou voltar para a minha xícara amarela.