03 julho 2007

as dobras que o tempo dá



Era uma vez um parque de diversões chamado Tupy, que, em guarani, quer dizer Tupi. Ficava na Avenida da Igreja, em Tramandaí, que também termina com "i", e que também é um nome guarani, que, por sua vez, também termina com "i".
Lá no Parque Tupy tinha um brinquedo chamado Chapéu Mexicano. Data estelar: 1973 a.C. e/ou adjacências. Não me perguntem a data pós Big-Bang. Muitos zeros.
Pois o Chapéu Mexicano era muito procurado pela garotada. Adrenalina pura, na época. Grandes emoções ao girar em torno de um eixo, sentados em uma espécie de balanço, assim, colocados aos pares, como aquele carrossel dos cavalinhos, só que sem os cavalinhos. Eram balanços que, quando o chapéu-carrossel começava a girar, a força centrífuga os levava a querer sair pela tangente. Trigonometria e física puras.
E a gente pensava que voava...e gritávamos, aos berros, como hoje se grita na montanha russa. Vomitávamos também, se tivéssemos comido algo antes.
Enquanto rodávamos naquele carrocel ensandecido, o tempo passava e perdíamos nosso tempo, nas voltas que o mundo e o chapéu mexicano davam.
E dali saíamos bem zonzos, grogues e totalmente tontos, eventualmente até vomitados, vendo as estrelas do céu onde elas menos poderiam estar: aos nossos pés, entre os pedriscos do chão batido, em uma noite de muitas nuvens, vento e lua cheia.
Não é à toa que muita coisa deixávamos passar à nossa frente, sem precebê-las. Tudo culpa daquele Chapéu Mexicano do parque em Tramandaí. E mesmo que continuássemos a dar muitas voltas naquela outra avenida, a que chamaram de Emancipação, continuávamos com nosso delírio de ver somente aquilo que queríamos ver, mesmo sem saber bem o que procurávamos.
Mas estávamos procurando, isso inguém pode negar. Cada um ao seu jeito, ao seu nível de busca, ao seu tempo. Procurávamos uns pelos outros, mas não nos achávamos, pois difícil era distinguir corações que batiam na mesma frequencia que o nosso, tal a zoeira da animação que as férias na praia provocavam na gente, sem falar de outras gostosuras que compartilhavam de nossos desejos carnais, como sorvetes, maçãs-do-amor, pipocas de chocolate e os memoráveis pasteis do japonês da galeria.
Numa dobra de tempo, sabe-se hoje que algo parou e ali ficou, lá em Tramandaí, aguardando a próxima volta do Chapéu Mexicano, que nem existe mais por lá. O mais incrível disso tudo foi a descoberta de que a próxima volta existiu, e durou um tempão prá acontecer...mas, como dizem os ilustres e sábios desconhecidos por nós, estes seres de outros mundos que caíram aqui por descuido, antes tarde do que nunca.
As dobras do tempo são pródigas, fazem milagres e disso nem mesmo Einstein sabia.

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