08 abril 2010

Trova Sem Rosto

Ela diz:

Ai, cefaléia!

Na vaga
(em voga)
a viga mestra rui.

De fato,
de quatro
obra, sim
cobra a-não.

Ora, pois, dirte-ei:
antes de ouvir estrelas
fique na mão.

Ele* diz:

Geléia Indigesta,
Acha que não se empresta!

Mas vaga vazia
De quatro oferecia -

a sobra -

à cobra de sobra.

Antes de sepultar as grelhas,
Recolha o dedão.



Ela disse:

A cobra,
de sobra,
vestiu um porém.

(Um espelho lhe faz refém?)
(Ou vazio lhe é o harém?)

- Vêde, Meu Amo, não há abraço fora do tom...
só espaço!

Então eu passo.

(Oh, tédio!)

À porta do paraíso
nem rosto,nem nome,
(só fome!)
mostravam seu laço.

Ele* disse:

Refém de espelho,
Não tem harém.


Nada sobra além de si,
Só.


Não tem com quem,
à porta do paraíso,

laçar a fome,
revezar o nome,


entrar sem rosto.


Ele* aqui, um honorável e agradável Anônimo que enfrentei no blog do Carpinejar, a quem faço essa pobre - porém limpinha - homenagem.

Orgasmo múltiplo é um bicho de sete cabeças I

Tarde de aniversário da minha xará cigana. Lá vou eu com a minha malinha de babados creme e cor de rosa, toda de pink e mais ou menos prosa. As coisa não estão boas, penso eu, mas podiam estar piores. Só ela para me tirar de casa num domingo à tarde. E eu, como o Lulu, odeio domingo.

Uma tossida, duas, tres. Raio de rabeira de gripe! Pigarreio. Estou me movendo. Isso, um dia de cada vez. E o dia é de festa. A cara podia estar melhor, com menos linhas de expressão (eu não tenho rugas!). Pensando bem, a barriga podia estar menor, as coxas menos grossas, os pés menos inchados, as unhas poderiam estar pintadas, os cabelos escovados...tá. Popará. O dia é de festa. Salvemos, pois, um domingo do calendário de 2009!!!

Aterrisei em frente ao edifício e sartei. Ajeitei a sobrancelha e pigarreei mais uma vez. Coisa de velha. E lá vinha ela, caminhando e gingando alegremente pela calçada, com seu sorriso emblemático, suas botas roxas e sua trança loura nos cabelos. Não, ela não era a aniversariante. Era a Denise! Chegamos juntas, sem marcar. Coisa prá lá de normal, que só acontece com as amizades eternas.

Mas o aniversário não seria o que foi sem ela. Ela e sua picante história com o poeta XXX, que, mais do que pensar e fazer poesia como aquele outro, é de pegar e fazer. E fazer bem feito. E fazer com elefantes e boas palmadas. Mas isso é outro capítulo dessa história. Talvez até tenha que classificar este blog para depois das 8 da noite, por causas das crianças na sala.

É claro,todos notaram que já estamos em 2010. A festa aí em cima foi no ano passado. Mas isso é um mero detalhe temporal. O tempo patina na memória, cai seus tombos, tonteia e abre os joelhos. Depois da cicatriz, sua linha retoma o ponto de partida, não necessáriamente no ponto onde parou. O importante é retomar. O texto que escrevi a respeito deste aniversário teve seu start. Só não foi adiante por receio...e, quem sabe, por um pouco de preguiça.

Digamos que isso aqui é um ensaio aberto ao público. Ai, isso me deixa nervosa. E direi que não gosto de aparecer sem maquiagem, sem a luz adequada, sem a forma perfeita, sem a casa limpa e arrumada e o banheiro cheirando a lavanda. Mas dirão que ensaios são ensaios...e que o legal mesmo é o processo, etecétera e tals.

Tenho comigo que é a fase. E, na linguagem de um projetista elétrico, tou neutra para essa fase. Toda a fase carece de um neutro. Um vai com a farinha e outro volta com o bolo. Eu provoco a minha tempestade cerebral, mas a calmaria domina o meu cenário acinzentado.

E eu aqui, querendo falar de uma festa de aniversário, de amigas falando sobre poetas e orgasmos múltiplos...

É.

Vai ficar prá semana.