29 agosto 2007

de volta ao bairro

Parece mentira, mas não é.

Caminho pelas ruas, olhos molhados e até meio fechados por causa daquele frio, e o frio que entra pelas narinas me indica - com uma espécie de alegria contida - que estou de volta ao bairro.
Ou será que o bairro volta a mim?

E quero olhar e olhar e olhar, como se pudesse fazer com que aquelas árvores nas calçadas e todas as outras da praça entrassem dentro do meu olhar, tão já desacostumado à elas. Aqui no bairro o verde está mais melancólico, mais escuro, e isso me incomoda. O inverno faz disso seu trunfo. Mantém o verde refém do frio, na cidade que é à beira de um rio de cor verde-agonizante. Mas a margem do rio está longe do bairro, que se dizia "nobre", mas cuja nobreza residia sómente na cabeça das imobiliárias e de seus moradores que se achavam nobres. Hoje, a velha nobreza decadente do bairro vê, através de suas janelas, que o mundo segue adiante, e há árvores e calçadas velhas como testemunhas disso.
Resgato meu bairro de um dia, para poder me achar novamente. Há os bancos da praça, em que sentava ocasionalmente, para estar mais presente à paisagem. A casa da esquina, o poste e seu fio tensor, as tímidas corticeiras da D. Vanda, as novidades das casas antigas reformadas, o quase-sumiço da rua Espiridião de Medeiros, as grades e aquele pretensioso edifício cinza-azulado no local onde havia o bar em que eu comprava jujubas.
E o barulho do metrô assustando os pombos. E o pinheiro torto, que indicava quando iria chover ou não. A paisagem se misturou à paisagem. Tudo, daqui da janela, cresceu nos detalhes. Me perco ao tentar assimilar tudo que vejo. Parece que há coisas...demais.
Sair dali foi tão fácil! Como pôde ser? E voltar está sendo muito, mas muito difícil. Perdido o contexto, quero entrar sem a chave que perdi.
E ainda, me parece, existe uma senha. Sorria. Voce perdeu o bonde. Quer subir? Cuidado com o degrau.

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