03 julho 2007

velha, diabética e rodeada de gatos



No filme "Chocolate" há uma personagem que gosto muito. Uma senhora de idade bem ranzinza, cuja filha viúva se esquiva de encontrá-la por causa do jeito como leva a vida, despreocupada de sua doença: ela é diabética. E, apesar de diabética, vive naquela deliciosa doceria recém aberta por aquela estranha e bela mulher, que veio sabe-se lá de onde, com a pequena e sonhadora filha, para atormentar as pessoas de bem com os seus maravilhosos bolos, bombons e chocolates.


O filho da filha viúva gosta muito da avó, certamente ela lhe atrai pela liberdade na qual vive, coisa que crianças amam ter para si próprias. Mas, por causa da marcação cerrada que sua mãe faz sobre si, tem que fugir sorrateiro, a cada vez que ele a quer encontrar, seja lá onde for. Ele ama a avó e, apesar de sua ranzinzice e mágoa da filha que a repele, ela acolhe o neto com todo o seu amor. Uma linda estória, dentro da outra estória. Em uma outra cena linda, o menino entrega à avó, de presente pelo seu aniversário, um retrato que fez dela. Lembro muito bem da expressão de seu rosto, ao ver a obra de arte do neto...mas não saberia aqui descrevê-la com precisão. É um misto de surpresa, satisfação extrema, amor, mas tudo isso só no olhar...naqueles minúsculos e apertados olhos azuis daquela atriz maravilhosa, que se chama Judi Dench.


Gosto de me ater, hoje, nos filmes que assisto, às estórias secundárias, aos atores coadjuvantes. Geralmente isso me surpreende e me encanta mais do que a narrativa principal. É claro, os atores principais precisam dos coadjuvantes como as flores precisam de água num vaso. Mas as estórias paralelas, que cruzam com essa narrativa principal e os atores coadjuvantes é que movimentam e fazem os filmes sairem do chão. Posso estar falando aqui o óbvio. Mas nunca li nada a respeito, sou uma leiga no assunto, falo o que sinto.

Como personagem secundário de minha própria história, uma outra Eu se manisfesta, atuando e convencendo a quem lhe assiste, cada vez mais, mas não por falta de personagens principais, mas por estes serem muito, mas muito sem graça. Medíocres. Canastrões. Filme de quinta categoria.

A outra Eu quer roubar a cena. Quer ser uma Judi Dench dentro de uma trama mágica, cheia de grandes emoções. Uma velha, sim, mas uma velha fogueteira, cheia de vontade de viver, se empanturrando de das delícias que a vida oferece, sem limites.

Sózinha? Talvez. Diabética? Sim, por que não? É hereditário, outra "má herança"...mas isto é o de menos. Viver é que é o grande lance. E os gatos, brincalhões, carinhosos, silenciosos e independentes seriam sua nem tão fiel companhia. Fidelidade é algo que gatos tem a si mesmos, coisa que deveríamos copiar.








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