07 setembro 2007

febre

Estou longe de casa, muito longe daquilo que é hoje a minha casa, em todos os sentidos. Moro numa cidade que nada tem a ver comigo, que deixo me desrespeitar, que deixo me oprimir, que deixo me prender sem nenhum laço ou nó visível, mas que só eu consigo ver. Esta cidade me adoece, me põe de cama, me fecha as janelas e apaga a luz natural.
Como explicar o lugar onde se nasce e onde se cresce, antes de partir dele para outro? Procuro as palavras e tenho dificuldades imensas em compor meu pensamento. Ouço todas dentro de mim, pergunto o que pensam disso, e o vozerio das respostas me confunde. E nessa confusão, me perco e me desalinho das prováveis respostas. Nada e tudo faz sentido, ao mesmo tempo. Me comovo, me atrapalho, uso as mãos em gestos inúteis e desesperados. Quero entender, entendo, mas quero que todos entendam também. Não sei por que, mas preciso me justificar.
Tenho um termômetro dentro de mim - acho - que mede o nível de afetividade que existe em tudo. Atualmente ele está no nível máximo, e sei muito bem o porquê disso. Estou em casa, é isso. Tenho febre alta de afetividade, benigna, que não quero baixar de jeito nenhum. Quero essa febre para mim, sempre.
Árvores e crianças brincando nas praças me dão febre. A rua em que passeava antigamente, cheia de luzes e gente, me dá febre. Amigos antigos me dão febre. Amigos que faço e fiz à pouco, idem. Comidas, cheiros, temperos, frutas, esbarrões ao acaso, pontes, rodoviárias, sirenes, sinos, nuvens de temporal, ventos, balanços, placas de sinalização, obeliscos, setembros...tudo e mais ainda me dá febre.
Tenho febre, tenho sede. Sede de voltar. Mesmo que a febre baixe, que a sede se sacie, mas preciso desesperadamente tentar.

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