27 março 2008

na bolha da noite

Afundei-me nessa noite e não soube lidar com ela. Desde que comecei a me arriscar a contar minhas memórias, já não se trata mais de simples histórias a contar, e sim, as minhas memórias. Como sou séria e responsável, assumo ares de gravidade, como se estivesse num velório. Preciso encontrar as palavras certas. Preciso me fazer entender.

Escrever para os outros é bem diferente de escrever para si mesmo.

Preciso de palavras que não traiam os fatos, preciso de poesia para emoldurá-los e torná-los eternos, preciso de equilíbrio para que tudo fique na superície do imaginário possível, preciso persistir na beleza mesmo que ela esteja longe do momento, preciso trazer à tona o riso escondido debaixo da trama do drama.

Preciso que a repercussão do fato seja sólida tal qual uma cabeleira esvoaçante. Se conseguir apenas uma relato confuso ou difuso, isento de graça, certamente ele se misturará às outras memórias de quem me lê, e virará apenas em poeira perdida no vento.

Ah, isso eu não quero. Não é esse o meu objetivo.

Quero faíscas no olhar, o sorriso indíscutivelmente espontâneo, o sim! é isso!, o conforto e o confronto de idéias que possam adicionar ainda mais amor ao que relembro aqui.

Afundei-me nessa noite, que tornou-se personagem e não um tempo de escrever. Hesito em firmar acordos, em formular frases, em rotear entradas de dados aleatórios, em ter-me alheia a pesadelos em andamento ou pré anunciados. Nestas horas o silêncio massacra, abre feridas e fecha-me as portas e as janelas pelas quais quero me deslocar. O silêncio, como um oco escuro cheio de nada.

Minha velha-nova história ficará suspensa sobre mim, até que a manhã, refletida nos muros que me cercam, me liberte.

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