Somos cúmplices sempre quando piscamos o olho, um para o outro, na hora em que abrimos aquele armário da despensa, e ela está vazia de mantimentos.
- Ih, tá vazio, tem nadinha prá comer.
- Há algumas teias de aranha ali no cantinho.
- Legau! Pode sair um macarrão!
- E a pobre aranha?
- Não tá vendo que ela abandonou o posto?
- É, deve ter desistido de esperar...
- Só tem eco aqui dentro.
- Ah, vamos fazer uma sopa de pedra!
- Sopa de pedra? Que que é isso?
- Hum, vejo que voce não teve infância.
- Minha infância ainda não terminou, tá?
- Nota-se...
- Qualé?
- Hehehe.
- Tá, mas...como é a sopa?
- Meu pai que me ensinou esta.
- Desembucha aí.
- É uma estorinha prá boi dormir, mas nos divertia muito.
- É de pedra mesmo?
- Dã.
- Vai, conta de uma vez essa estorinha. Tou com fome, pô!
- Um velho muito esperto estava com fome. Bateu à porta de uma casa, e uma homem o atendeu e perguntou o que ele queria. O esfomeado pediu comida, e o homem lhe disse, mentindo, que a despensa estava vazia. Quando o homem já ia fechando a porta na sua cara, o esfomeado mostrou-lhe uma panela velha que trazia, e dentro dela havia uma pedra. Por favor - disse o esfomeado ao homem - só preciso de uns ingredientes para fazer uma sopa com esta pedra. O homem riu, achou tudo muito engraçado, e seguiu a conversa. Que ingredientes? - perguntou o homem ao esfomeado. Coisa pouca - respondeu o esfomeado - só uma cenoura e talvez uma batatinha. Curioso o homem trouxe as duas e entregou-as ao miserável esfomeado, que prontamente as colocou na panela, junto com a pedra. E agora? - perguntou o homem ao miserável. Bem - disse ele ao homem -, ficaria melhor se houvesse um pedaço de carne para fazer um caldo, mais um pouco de sal. O homem entrou novamente e trouxe carne seca, entregando-a ao miserável, que a colocou na panela, junto com a cenoura, a batata e a pedra...
....
- Hehehe, muito boa essa! Nem precisa terminar a estória, já saquei tudo.
- Vejo que sua infância lhe é pródiga.
- Peste!
- Isso é um elogio, pô!
- Tá bom...cadê aquela panela velha?
- Tá ali, "badapia".
- Quem vai ser o miserável esfomeado?
- Você, ora bolas. Além de planejar tudo, tenho ainda de fazer o serviço?
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