25 junho 2007

cumplicidade



Somos cúmplices sempre quando piscamos o olho, um para o outro, na hora em que abrimos aquele armário da despensa, e ela está vazia de mantimentos.


- Ih, tá vazio, tem nadinha prá comer.

- Há algumas teias de aranha ali no cantinho.

- Legau! Pode sair um macarrão!

- E a pobre aranha?

- Não tá vendo que ela abandonou o posto?

- É, deve ter desistido de esperar...

- Só tem eco aqui dentro.

- Ah, vamos fazer uma sopa de pedra!

- Sopa de pedra? Que que é isso?

- Hum, vejo que voce não teve infância.

- Minha infância ainda não terminou, tá?

- Nota-se...

- Qualé?

- Hehehe.

- Tá, mas...como é a sopa?

- Meu pai que me ensinou esta.

- Desembucha aí.

- É uma estorinha prá boi dormir, mas nos divertia muito.

- É de pedra mesmo?

- Dã.

- Vai, conta de uma vez essa estorinha. Tou com fome, pô!

- Um velho muito esperto estava com fome. Bateu à porta de uma casa, e uma homem o atendeu e perguntou o que ele queria. O esfomeado pediu comida, e o homem lhe disse, mentindo, que a despensa estava vazia. Quando o homem já ia fechando a porta na sua cara, o esfomeado mostrou-lhe uma panela velha que trazia, e dentro dela havia uma pedra. Por favor - disse o esfomeado ao homem - só preciso de uns ingredientes para fazer uma sopa com esta pedra. O homem riu, achou tudo muito engraçado, e seguiu a conversa. Que ingredientes? - perguntou o homem ao esfomeado. Coisa pouca - respondeu o esfomeado - só uma cenoura e talvez uma batatinha. Curioso o homem trouxe as duas e entregou-as ao miserável esfomeado, que prontamente as colocou na panela, junto com a pedra. E agora? - perguntou o homem ao miserável. Bem - disse ele ao homem -, ficaria melhor se houvesse um pedaço de carne para fazer um caldo, mais um pouco de sal. O homem entrou novamente e trouxe carne seca, entregando-a ao miserável, que a colocou na panela, junto com a cenoura, a batata e a pedra...

....

- Hehehe, muito boa essa! Nem precisa terminar a estória, já saquei tudo.

- Vejo que sua infância lhe é pródiga.

- Peste!

- Isso é um elogio, pô!

- Tá bom...cadê aquela panela velha?

- Tá ali, "badapia".

- Quem vai ser o miserável esfomeado?

- Você, ora bolas. Além de planejar tudo, tenho ainda de fazer o serviço?

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