24 junho 2007

pulando dentro

Fazíamos fogueiras fantásticas naqueles tempos. Cheias de ingredientes extras, como pneus velhos, caixas de maçãs e de papelão, galhos retorcidos recolhidos aqui e ali pelos matinhos e terrenos baldios, restos de tábuas usadas para formas de vigas de concreto em obras vizinhas...e poucos, muito poucos galhos arrancados de árvores, para fazer volume e dar a "pega" inicial. Não fazia sentido cortar galhos importantes de nossas laranjeiras ou cinamomos para colocar para arder e virar cinza.
Fogueiras eram para queimar, sim, mas não para fazer nenhum mártir.
Prezávamos nossas árvores. Tínhamos mais juízo de valores. Tínhamos que manter os galhos da subida intactos, senão aquela nossa escalada se tornaria muito mais difícil. E que tristeza era a hora da poda! Custei a entender esse processo de decepar galhos para obrigar a pobre árvore a crescer mais depressa, a tornar-se adulta mais cedo, a dar mais flores e consequentemente mais frutos, que também faziam a nossa alegria.
E aquelas partes decepadas eram cuidadosamente reservadas às próximas fogueiras. Membros que iriam arder na festa, em homenagem à alegria que nossos olhos refletiam. E aquelas faíscas que voavam com o vento, fazendo aquele perigoso balé...seriam as almas libertando-se daquelas partes que ardiam? Quem é que sabe?

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