29 abril 2008

volver a los 17

A garimpagem da memória é algo surpreendente. Depois de viver uma vida condicionada ao meio que me transformou em outra pessoa, perdi quase que totalmente a noção do que era lá no início. E o início nos conta muito. Raros são aqueles que conseguem manter-se dentro daquele campo de força amoroso inicial, já que fatalmente e equívocamente temos de rompê-lo para poder "crescer".

Uma dia criei asas, voei prá longe e uma dessas viagens foi aquela em que fui para bem longe de mim. E o fiz porque era preciso. Todos precisamos sair de si para conhecer-nos outros. E somos muitos, até que um deles nos encante mais, nos reflita mais, e então adotamos a sua forma para caminhar sobre a terra. O problema é que nem sempre acertamos nessa escolha. Acho que daí é que vêm as famigeradas crises existenciais.

Fui-me assim nesta busca, numa data préviamente esquecida, para que não a guardasse e quisesse lá voltar, pois essa lembrança nada me diz. Mas posso afirmar que o que me moveu foi uma espécie de sentimento de liberdade plena - porém ilusória - aquela mesma liberdade que sente-se quando mergulha-se em uma piscina, sabendo-se não ser um peixe ou sereia, pois é preciso emergir para alimentar-se de ar, e sabendo-se que o espaço da piscina termina logo ali naquela lisa e gelada superfície revestida de lindos azulejos azuis.

Parece que caio hoje em minha própria teia sem rastro. Últimamente me pego querendo voltar no tempo. Mas o que eu quero com esse passado? Para que meu olho confuso olha tanto para trás?

Certamente não é uma questão de nostalgia, sou uma curiosa de mim mesma e procuro hoje cuidar-me como um jardineiro cuida de um roseiral. Sou toda flores e espinhos, mas minha paisagem é delicada. E, ainda que seja muito pretensiosa a idéia de voltar, eu devo tentar. Eu poderia defazer o feitiço que o tempo me lançou reescrendo a minha história, colocando peças soltas do quebra-cabeça que recolhi pelo caminho percorrido até aqui.

Tudo faz sentido e tudo tem seus porquês. Enchi caixas e bolsos com estas peças sem saber para que elas me serviriam um dia. Pareciam coisas sem sentido, desconexas, lixo, sombras, sobras, rascunhos inúteis. Se não sei o lugar de todas agora, estou em vias de descobrir. Reciclar é a palavra. O tempo, afinal, foi meu amigo. E continua sendo.

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