30 junho 2007

sutil como uma fragância

Assisto a um filme, a partir de um momento qualquer. Perco o início, mas me interesso pelos personagens e pelos atores, Juliette Binoche e Jean Reno. É francês. O título, traduzido, é "Fuso Horário do Amor". Não sei o título em francês, mas acho que não pode ser tão ruim quanto a tradução em português. Por sorte o filme não é dublado. Adoro a voz do Jean Reno.

E a primeira cena que assisto desse filme - já em andamento, repito -, é o casal entrando em um quarto de hotel, com duas camas de casal. Ele pergunta à ela em qual das camas ela quer dormir e ela responde que pode ser em qualquer uma, sentando-se logo na que fica perto da porta de entrada do quarto. Ele, de pé, diz que prefere a que está perto da porta, e ela, sem pestanejar, muda-se para a cama perto da janela.

Ele, cheio de tiques nervosos, com um spray na mão, "sprayando" o ar do quarto, e se justificando que é alérgico aos cheiros, principalmente o do tabaco "frio". Ela, uma moça toda maquiada e com um casaco de gola peluda azul-escuro, destes compridos, senta-se à beira da cama e ali fica, a olhar-se em um pequeno espelho que tira de uma bolsa plástica transparente. Ele pega em sua mala uma necessaire e dirige-se ao banheiro. Fecha a porta e ali começa a sentir-se mal. Cambaleia, mas antes toma um remédio e deita no chão e - parece-me - demaia.
A mulher, cujo nome é Rose, recosta-se e aguarda seu "companheiro" sair do banheiro. O tempo passa, e nada. Nisso, a campanhianha toca: é a camareira, trazendo toalhas limpas. Ela bate, então, à porta do banheiro e não tem resposta. Abre a porta e vê, sem não antes bater com a mesma porta na cabeça do pobre desmaiado que está deitado ao chão, que acorda assustado e levanta-se rápidamente, e ela a pedir-lhe desculpas, muito preocupada...e depois...
Mas, péraí!
Eu estou descrevendo o filme! Não era exatamente isso que queria fazer, não mesmo!
Mas...o que é mesmo que eu quero fazer?

28 junho 2007

sobre as verdades




Por que falar a verdade?


A verdade dói, mas consola.
A verdade é crua, mas tem gosto bom, quando bem assimilada.


A verdade é racional, mas serve aos irracionais, pois estes também inventam suas próprias verdades.


A verdade prova e comprova os fatos, mas também atenua o tamanho das consequências.


A verdade é símbolo de lealdade, de pureza, mesmo que tome jeito de ficção.


A verdade redime os pecados cometidos sem precisarmos ter que pedir perdão.


A verdade cria afeições, depois de revelada com sinceridade, naqueles que aceitam a verdade como parte de um conjunto de boas atitudes para consigo mesmo e para com os outros.


A verdade é espelho e sempre reflete o que está à sua frente. E o espelho não mente.


Somos de verdade quando falamos a verdade. E isto está acima de qualquer julgamento. Fazer, saber o que fez e revelar-se a si mesmo e ao próximo é o que podemos fazer de melhor em nossas vidas, cada vez mais sem propósitos, por falta da verdade.


Uma vida sem a verdade é uma vida invertida em todas as circunstâncias. Não se vive, se vegeta, se espera pelo fim.

Quem é voce, de verdade?


27 junho 2007

cada um dá o que recebe



Hoje, dia ruim, tento visualizar o que me aconteceria se fosse uma completa insensível, uma inconsequente sem limites, ou algo parecido com isso. Em poucos instantes chego à conclusão: seria tão bom!!!



É claro, o "bom" aqui a que me refiro, seria o bom para mim, mas só para mim. Sairia jogando merda no ventilador sem dar a mínima bola para onde essa merda iria se espalhar, a quem iria atingir em cheio no rosto, se seria fácil limpar o estrago ou não, se essa merda secaria e viraria um fóssil que, mais tarde - bem mais tarde - fosse descoberta como a principal suspeita da detonação da bomba que destruiria o mundo numa terceira guerra mundial.



Insensíveis e inconsequentes podem sim, serem felizes. Estão nem aí para as marcas vermelhas que deixam, para as impressões digitais nos copos e telefones em que beberam e xingaram, para as caras duras e possessas que lhes fitam com adagas flamejantes saindo dos olhos, para o mar de lágrimas que provocam com sua ira irresponsável e gratuita - seja lá em que rosto amigo for -...é uma alegria amarrada à mais pura isenção de sentimentos e, portanto, totalmente livre de auto-censura. Não pensam, logo, f***-se o resto.


Inconsequentes insensíveis nem se preocupariam, como eu, em usar asteriscos ao invés de letras para escrever um palavrão assim, públicamente...mas tem gente que acha isso o máximo, chama isso de "ser autêntico", de "liberdade de expressão"...e então?


E então...foda-se o resto. Vou começar por aí a minha inconsequência irracional. Mas, não adianta, a minha sensibilidade me atormenta, me mostra o lado escuro que provoco em mim mesma e a sombra imensa que posso provocar por onde lançar meu verbo inconsequente. Criarei inimigos, desafetos, ódios, rancores, e isso, mesmo que eu dê de ombros, vai fazer doer a minha nuca. E, na hora que dói a nunca, vou me danar.


Não tem jeito. Apaga tudo. Fico com a minha sensibilidade e com minha razão idiotas. Sou masoquista, mesmo.


E daí? Foda-se o resto!

26 junho 2007

lá se foi o meu balão

Já tive dias melhores nestas datas juninas.
Bom, junho ainda não terminou. Há um quê de esperança suspenso no ar.
Tem uma esperança que não me abandona, nunca, de jeito nenhum. Resiste mesmo nas piores condições de sobrevivência, como os camelos resistem ao deserto, dias e dias e dias sem beber uma gota de água sequer.
Como os camelos e os povos nômades que deles se utilizam para transportar-se de lá para cá e de cá para lá, vivo em busca do meu oásis. Um lugar para ficar, criar raízes e sossegar em meio aos meus fantasminhas brincalhões, meus amigos invisíveis e todos aqueles que chegarem para abraçar a causa da alegria e da paz.

25 junho 2007

cumplicidade



Somos cúmplices sempre quando piscamos o olho, um para o outro, na hora em que abrimos aquele armário da despensa, e ela está vazia de mantimentos.


- Ih, tá vazio, tem nadinha prá comer.

- Há algumas teias de aranha ali no cantinho.

- Legau! Pode sair um macarrão!

- E a pobre aranha?

- Não tá vendo que ela abandonou o posto?

- É, deve ter desistido de esperar...

- Só tem eco aqui dentro.

- Ah, vamos fazer uma sopa de pedra!

- Sopa de pedra? Que que é isso?

- Hum, vejo que voce não teve infância.

- Minha infância ainda não terminou, tá?

- Nota-se...

- Qualé?

- Hehehe.

- Tá, mas...como é a sopa?

- Meu pai que me ensinou esta.

- Desembucha aí.

- É uma estorinha prá boi dormir, mas nos divertia muito.

- É de pedra mesmo?

- Dã.

- Vai, conta de uma vez essa estorinha. Tou com fome, pô!

- Um velho muito esperto estava com fome. Bateu à porta de uma casa, e uma homem o atendeu e perguntou o que ele queria. O esfomeado pediu comida, e o homem lhe disse, mentindo, que a despensa estava vazia. Quando o homem já ia fechando a porta na sua cara, o esfomeado mostrou-lhe uma panela velha que trazia, e dentro dela havia uma pedra. Por favor - disse o esfomeado ao homem - só preciso de uns ingredientes para fazer uma sopa com esta pedra. O homem riu, achou tudo muito engraçado, e seguiu a conversa. Que ingredientes? - perguntou o homem ao esfomeado. Coisa pouca - respondeu o esfomeado - só uma cenoura e talvez uma batatinha. Curioso o homem trouxe as duas e entregou-as ao miserável esfomeado, que prontamente as colocou na panela, junto com a pedra. E agora? - perguntou o homem ao miserável. Bem - disse ele ao homem -, ficaria melhor se houvesse um pedaço de carne para fazer um caldo, mais um pouco de sal. O homem entrou novamente e trouxe carne seca, entregando-a ao miserável, que a colocou na panela, junto com a cenoura, a batata e a pedra...

....

- Hehehe, muito boa essa! Nem precisa terminar a estória, já saquei tudo.

- Vejo que sua infância lhe é pródiga.

- Peste!

- Isso é um elogio, pô!

- Tá bom...cadê aquela panela velha?

- Tá ali, "badapia".

- Quem vai ser o miserável esfomeado?

- Você, ora bolas. Além de planejar tudo, tenho ainda de fazer o serviço?

24 junho 2007

atenção

Diomio, quanta coisa para escrever!!! Preciso lembrar de tudo o que venho esquecendo, últimamente. Tudo é importante, tudo merece um registro, nada deve ser ignorado. Preciso ficar atenta, olhos e ouvidos bem abertos, nariz apurado no olfato, para memorizar o caminho que percorri para chegar onde cheguei. Sim, eu posso querer voltar.
O "voltar" aqui pode ser uma novidade, entre tantos descaminhos. O voltar pode ser relembrar, também, momentos de puro êxtase que ficaram suspensos naquele cantinho da memória, que teima em "piscar" vez ou outra, assim, num brevíssimo instante em que sem se percebe que algo nos é familiar. "Já vi este filme", poderia dizer, mas o vi de uma forma diferente, com outros personagens, outras falas, mas com o mesmo significado de agora. Isso me fascina e me põe pasma diante de uma releitura de acontecimentos passados - os bons acontecimentos - que podem reviver diante de uma não-espera, uma surpresa agradável e que me faz conciliar-me com o tempo.
A vida é brincalhona demais. Brinca conosco o tempo todo. Brinca de esconde-esconde e nos faz de bobos, às vezes, diante do que, sem querer, achamos. Sabíamos que estava escondido, mas não sabíamos o processo da procura através de pistas deixadas. Não sabíamos reconhecê-las quando apareciam à nossa frente, em forma de frases soltas ou outro sinal simbólicamente escolhido por ela. Ela, a vida, nossa amiga que dá e tira, tem esse caráter informal e cruel. Nos coloca à prova, nos põe contra a parede, nos provoca e nos atiça.
"É preciso estar atento e forte..." dizia quela canção. Nunca isso me foi tão verdadeiro como agora.

pulando dentro

Fazíamos fogueiras fantásticas naqueles tempos. Cheias de ingredientes extras, como pneus velhos, caixas de maçãs e de papelão, galhos retorcidos recolhidos aqui e ali pelos matinhos e terrenos baldios, restos de tábuas usadas para formas de vigas de concreto em obras vizinhas...e poucos, muito poucos galhos arrancados de árvores, para fazer volume e dar a "pega" inicial. Não fazia sentido cortar galhos importantes de nossas laranjeiras ou cinamomos para colocar para arder e virar cinza.
Fogueiras eram para queimar, sim, mas não para fazer nenhum mártir.
Prezávamos nossas árvores. Tínhamos mais juízo de valores. Tínhamos que manter os galhos da subida intactos, senão aquela nossa escalada se tornaria muito mais difícil. E que tristeza era a hora da poda! Custei a entender esse processo de decepar galhos para obrigar a pobre árvore a crescer mais depressa, a tornar-se adulta mais cedo, a dar mais flores e consequentemente mais frutos, que também faziam a nossa alegria.
E aquelas partes decepadas eram cuidadosamente reservadas às próximas fogueiras. Membros que iriam arder na festa, em homenagem à alegria que nossos olhos refletiam. E aquelas faíscas que voavam com o vento, fazendo aquele perigoso balé...seriam as almas libertando-se daquelas partes que ardiam? Quem é que sabe?

Tudo errado

Passo sobre a avenida embandeirada,
me alegro por um breve instante
como se bandeirola fosse
de qualquer cor, ao sabor do vento noturno.

Mas logo penso, ao escutar um rojão:
"São milhares delas, presas à cordas,
só balançam ao vento
prá lá e prá cá,
mas nem podem voar."

"Eles são muitos, mas não podem voar."

Aquela letra de música me soa e ressoa.
As cores juntas, misturadas
iludem os passantes, livres, distraídos,
encantados.
Livro-me destes pensamentos
e sigo adiante.

Nada é o que parece
penso o que não devo pensar
hora errada, lugar errado.
Tudo errado.



23 junho 2007

decisões juninas



Como o tempo passou e eu nada fiz, deitada, esperando acontecer um milagre, privei-me de viver como gostaria. Iludi-me com minhas sábias decisões de deixar ser como era, de me distanciar de problemas recorrentes e acolher de braços abertos toda e qualquer decepção, achando que asim seria melhor. Não sou de briga, nem de berros nem gritos.



Só que transbordou. Minha alma não me aceita mais como tenho sido até agora. Minha alma me cobra atitudes, quer voltar a ter importância, quer apossar-se do meu destino, quer me mostrar que há realmente um pote de ouro ao final do arco iris, aquele mesmo que não consigo mais enxergar através das lentes turvas e sujas de meus óculos emprestados de alguém que não quer que eu veja o que está logo ali, escancaradamente desenhado à minha frente.



Minha vida é muito preciosa para minha não-vida querer apossar-se dela. Nem eu nem ninguém temos o poder de desfazer o que foi feito ou o que foi deixado de fazer. Entra ano e sai ano e a história registra as desesperanças, implacávelmente, num diário reservado às esperanças. Tudo muito errado...muito errado. É hora de mudança, em que essa mudança seja o retorno ao que se é e o que sempre se foi.



Mudar para querer-se novamente. Mudar para ressurgir de quase-cinzas. O paraíso não era aquele, me perdi em devaneios e passei por cima dos caminhos que se abriram, com o sol, à minha frente. Certamente fiquei ofuscada, mas então eles nada me diziam. O sol também pode cegar, queimar, deixar dores e mágoas na superfície da alma.



Volto à estaca zero, ao marco inicial, a um início, de novo e de novo. Minha alma pede mais um recomeço e aceito isso de bom grado. Tenho a perder sómente o peso do acúmulo de anos de alegrias contidas, de risos abafados, de gestos comedidos e gritos presos na garganta. Quantos ecos deixei de ouvir? E ouvir ecos nada mais é do que ouvir-se...



Quero ouvir o que tenho guardado nestes anos. Chega de economias. Quero gastar tudo, todas as minhas fichas. Quero apostar na novidade, nos cavalos que correm com o vento, na loteria das previsões imprevisíveis. Quero correr riscos. Chega de covardias.

outra de além-mar



"Mocinha, viva o São João!
Vamos tentar que a saudade nos de tréguas!
O espírito voará com os balões..."
(pintura de Clóvis Graciano)

18 junho 2007

vontade é que não falta

Semper reclamei de ter que fazer malas.
Pudera...se fosse só fazer a minha, tudo bem. Mas fazer até mala do cachorro, do gato e do papagaio? Isso é muito injusto! Eu tenho que lembrar até do osso de estimação, da bolinha com guizo e pena e da semente de girassol da ilustre e desconhecida marca "Águia", que só tem aqui e em lugar nenhum do mundo. E tudo tem que ir prá mala, nada deve ser esquecido, sob pena da vida parar lá, no incerto e não sabido desconhecido destino da viagem, aquela selva prá qual a gente se dirige, a cada final de ciclo.
Malas.
Malas!!!

14 junho 2007

fofismando

Ser ou não ser fofo, eis a questão!
Fofuras são carinhos, almofadas, bichinhos de pelúcia
recheios variados de doçuras macias,
coisas de dar água na boca, só de pensá-las.
Resistir, nem pensar!
(suspiros!!)
O que seria do mundo sem as fofices das poltronas
das espumas de banho, das nuvens de algodão-doce?
E o que dizer das mousses, das sedas,
das camisetas bem velhinhas,
dos marshmallows sapecados
mergulhados em creme de baunilha?
(mais suspiros, por favor!!!)
Fofoletismos e fofolices
são uma questão de atitude.
Nada pode ser tão ou mais gostoso
do que dar uma boa afofada diária
pela manhã, ou à tardinha
ou mesmo na madrugadinha
naquela fofura fofosa e até fofolenta
que está ao seu lado.





isso que eu chamo...

...tortura.
Que situação!!!!

12 junho 2007

fúria de cachoeira



Vejo-me cachoeira

desaguando um sem-fim

das alturas, lá na mata.

Respingos e nuvens

por todo o verde

e todas as pedras

me sorriem.

E até o limo

que alimento flor

que flor poderia ser

se limo não o fosse

assim, escorregadio,

perfumaria o ar.


Vejo-me fúria,

fúria de cachoeira,

inconforme e disforme,

tecida transparência

que queda livre.


Deságuo, choro um rio,

em doses cadentes

desmedidas, carentes.

Livre, na queda,

presa ao curso do rio.

na verdade...

"Não confundas o amor com o delírio da posse, que acarreta os piores sofrimentos.
Porque, contrariamente à opinião comum, o amor não faz sofrer.
O instinto de propriedade, que é o contrário do amor, esse é que faz sofrer. (...)
Eu sei assim reconhecer aquele que ama verdadeiramente:
é que ele não pode ser prejudicado.
O amor verdadeiro começa lá onde não se espera mais nada em troca."

(Antoine de Saint-Exupéry, in 'Cidadela')

dia dos namorados


Amor:

"Fechei os olhos para não te ver

e a minha boca para não dizer...

E dos meus olhos fechados

desceram lágrimas que não enxuguei,

e da minha boca fechada nasceram sussurros

e palavras mudas que te dediquei...


O amor é quando a gente mora um no outro."



Mário Quintana

10 junho 2007


toca aí, Miroooooooo!!!!

"Venta,
ali se vê,
aonde o arvoredo inventa um balé...
enquanto invento aqui prá mim
um silêncio sem fim
deixando a rima assim
sem mágoas, sem nada..."

- Miro, você sabe tocar Telhados de Paris, do Nei Lisboa?

Ele sorri, e os olhos dele também sorriem, e faz um sinal com a cabeça dizendo que sabe sim, enquanto canta o último verso daquela do Jota Quest.

"...Só uma janela em cruz,
e uma paisagem tão comum.
Telhados de Paris
em casas velhas, mudas,
em blocos que o engano fez aqui...

Mas tem no outono uma luz
que acaricia essa dureza cor de giz
que mora ao lado, mas parece outro país
que me estranha mas não sabe se é feliz
e não entende quando eu grito:

Eu tenho os olhos doidos, doidos, doidos
doidos, doidos, doidos
são doidos por ti..."

Aí ele faz sinal que não lembra o resto da letra. Nem a gente lembra. Azar. A gente canta os mesmos versos, tudo de novo. E a gente nem sabe se é olhos doidos, ou douros, ou duros...e daí? Nada nos impede de cantar, de cantar e cantar. E a cabeça cheinha de Bells, rodando que nem parafuso. E aquela loura, na outra mesa, vestida com aquele casaco branco com gola peluda, que parecia mais um coelho, devia estar pensando "que doidas mais salientes essas duas aí"...tsc, tsc, tsc. Tadinha da lôra. Entendeu nada, como de praxe. Nei Lisboa é prá quem sabe e curte, mesmo assim, sem saber direito a letra.


"eu tenho os olhos doidos, douros, duros, doidos...já viiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii...
meus olhos douros, duros, doidos...são doidos por tiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii..."



07 junho 2007

"dormir, para chover"

"A chuva é quando me confesso.
Nunca poderei me salvar num dia de sol, numa manhã esquartejada de azul.
Como pedir desculpa com a luz me empurrando para a rua?
A redenção surge com a chuva, os relâmpagos montando pandorgas nos morros.
A chuva me transporta para a casa, para as gavetas, para o abajur.
Aos lugares mansos e pantanosos de mim.
A chuva e lá vão os olhos a nadar ida e volta.
Ida e volta.
Ida. "
Fabrício Carpinejar

desencantando

Taí, ó. Desencantei.
Mas não por estar encantada...continuo no encanto.
E sapo nenhum deu-me um beijo.

06 junho 2007

Lindo!

http://www.devilducky.com/media/62379/

Longe é um lugar que não...

...existe?

Duas Cláudias

Duas Cláudias.
A primeira, a irmã biológica (dizem...hehehe), por mim querida demais. E bem doida, que é assim que eu a quero, sempre. Mas nem sempre dá, eu sei. Duas doidas certinhas demais...é o que nós somos. Mas vamos dar um jeito nisso. Doidice pouca é bobagem, precisamos implementar a nossa doidice.
A segunda, a irmã que eu achei por aqui, nestas bandas baianas. Ela mesmo veio de outras paragens, como eu. E, sem combinarmos nada e por força do destino que nos carrega, viemos uma para a outra. E não nos separaremos mais. Quando dois corações se entrelaçam, não há força no mundo capaz de desfazer isso.
Duas Cláudias.
Dois amores.

05 junho 2007

Latiunidades infundadas

Portuga
Eu sei, o meu latim ainda dá!
"De rerum novarum" - foi uma encíclica. Portanto, ainda sei declinar. Aliás, declinar é fatal..rsssssssssssss
\/ndre\/
Declinar não é comigo!!!
Portuga, se o seu latim "dá", o meu nem deu.
Grassinha
Não sei lhufas de latim.
Não declino em latim, declino do latim
Só sei o que é res por causa do direito. Essa encíclica aí até eu conheço. Primeira a se preocupar com os operários. Prá mim, uma satisfação, uma reação ao movimento de independência deles. Mas de qualquer forma foi útil. Depois de Leão XIII e João XXIII, tem que aguentar esse Nazi é brabo!
Portuga
Dois alatináceos
Pois eu, in illo tempore, soube muito latim e até grego antigo. Mas já lá vai... Mais recentemente, tentei o gaélico, mas já estou dura de ouvido!
\/ndre\/

"Encíclica" é algo relativo a bicicletas?
Grassinha
Não Baiana.
Encíclica tem haver em pertencer a determinado ciclo, capice?
Latim prá mim é grego.
Grego também.
Portuga
Dois agregados?
Fiquei assim, meio sem a palavra adequada (???).
\/ndre\/
Alatináceos & agregados
Pois tem gente aqui que considera grego - também - todas as línguas anglo-saxofônicas.
Soa-lhe grego, mas grego lhe é tudo que é viadagem e filosofagem, generalizada e exageradamente. Ah, e ainda soa-lhe como barbaridagem, vejam só.
Grassinha
Impropérios
Nada a ver o grego, o Frigorífico Anglo e o saxofone, nem sob a ótica da física quântica. Essas relações inexistentes que tentou se fazer aqui não passam de helicoidices.Quanto ao resto, puro preconceito de escola luterana.
Grego não! Eu sou Esparta!

Eu fumo

Teve jeito não: voltei pro cigarro.
Quem diria?
Campanhas e mais campanhas anti-tabagismo e eu aqui, enchendo os pulmões dessa fumacinha.
E fazia tempo, muito tempo, que não fumava...
Mas tou fumando, e daí?
"Seja gentil com o fumante, ele vai morrer", diz o Millôr.
Putz. Todo mundo vai morrer. Eu não escapo dessa.

04 junho 2007

Ainda Tuga

Aqui Tuga está ouvindo Fito Paez.

Tuga

Tuga, olhos verde-amarelados bem fechados, na hora do cafuné.

Angelina & Jolie

Lindas, não? Filhotas de Mya, segundas-irmãs de Tuga.
Nasceram 4: Brad, Pitty, Angelina e Jolie. Uma homenagem àquele belíssimo casal de atores que adota crianças de qualquer raça ou credo ou nacionalidade.
Brad e Pitty foram doados recentemente, a quem os quis adotar. São igualmente lindos, e certamente serão bem cuidados em seu novo lar.
Não me canso de olhar os filhotes brincando. É uma paz incrível que isso me traz.
Poderia ficar horas e horas, só a observar seus saltos e brincadeiras.
Olhando só por olhar, e sentindo essa paz aqui dentro.

smzando de além-mar



"Dona,


estou voltando da minha jornada campestre,


carregada de alfaces,


favas, cerejas, laranjas!


Acho que amanhã vou montar uma feira aqui à porta.


Ah, e uma garrafa de vinho do Porto, caseiro,


com mais de 25 anos.


E estou derrubada, esteve calor.


Mas lembrei que tenho um país lindo.


bjs"




(E eu estaria aí, portuga, avental/cavalete/chapéu(?)/pincel/aquarela a postos, para pintar essa!!! Seria o bixo, ou melhor, um luxo!!!)


03 junho 2007

Piratiando o que há de melhor



Me entendam: filmes deveriam ser feitos para que?


Na minha nem tão modesta, mas sincera, opinião, para divertir quem os assiste, ou, dependendo da trama ou enredo ou forma, mostrar novas possibilidades, novas formas de visualizar e meditar sobre determinados assuntos, sejam eles banais - do nosso dia-a-dia -, de casos e descasos familiares, de acontecimentos importantes da história mundial, de fábulas, de estórias íntimamente ligadas à nossa psique, de parábolas, de contos de fadas e por aí vai.


Gosto de sair do cinema satisfeita - ou até maravilhada - com o que vi e ouvi. Quem não? E foi assim que saí, agora há pouco, do cinema, ao final de "Piratas do Caribe III: O Fim do Mundo".

Por três horas fiquei ligadona no telão, na busca insaciável de perder nenhum detalhe deste filmão. Divertidíssimo, cruel, violento, dinâmico, ágil. Uma "coisa" de encher a cabeça com a maravilha da estória em si, de seus personagens fantásticos e de suas tantas - na falta de uma expressão mais condizente - nuances estéticas. Fiquei sem ar. A pipoca foi pouca, como se quisesse colocar aquilo que via prá dentro de mim, falo de "comer o filme", como se assim pudesse ser.


É vero: tem filmes que gostaria de comer. Ou melhor, neste caso específico, fazer o download direto para o cérebro, pois do cérebro não sairia, já que a "comida", depois de processada, deixa um resíduo que vai-se embora do corpo...direto para o esgoto. E desse filme não há nada que deva ser eliminado, tudo é cuidadosamente e meticulosamente - apesar da agilidade das cenas e dos diálogos - substancial, pura vitamina. Oxigênio em doses maciças e generosas. Revigoração e reanimação garantidas.


Vão ver o filme. Mas no cinema, viram? Nada de telinha, pois as cenas de mar, de navios piratas, de por-de-sol às avessas, de figuras aquáticas mitológicas, de praias paradisíacas, de beijos calientes em plena tempestade merecem, sem dúvida alguma, um telão e um surround. Isso sem falar no casting, que até me privo de comentar, pois não quero aqui falar do óbvio.


Ah, e comprem aquele saco de pipocas bem grandão. O médio é pouco...muito pouco.

02 junho 2007

Sobre os Ogros - parte I

O ogro é um antigo personagem de contos de fadas. Contos de fadas de terror. Um ser abjeto, horroroso, nojento e muito temido, pois atacava aldeias e roubava criancinhas para comê-las. Por isso, era perseguido e caçado, como um monstro.
Nos contos de fadas modernos, a idéia de ogro muda, e adquire ares de comédia, com direito à muita maluquice, nonsense e risadas. Esse ogro tem sentimentos, dúvidas existenciais e é apaixonado perdidamente. E não come criancinhas. Gosta de sopão, daqueles que são preparados com tudo que se possa imaginar, dentro de um caldeirão fumegante. O que cair ali dentro é cozido e desfeito naquele caldo grosso, de cor indefinida, parecendo uma lama "medicinal".
Esse é o segredo da cozinha do ogro moderno. É dali que ele tira toda a sua força.
Uma lareira, um caldeirão de sopa, um sofá...e um filminho, vez ou outra, prá abrir a cabeça às novidades.



A redação nota 10 de Marina!!!



A grande descoberta


"Anabela era uma menina sozinha, que morava com seu pai porque sua mãe tinha falecido poucos anos depois de dar a luz. Ela tinha poucas amigas, por isso, passava boa parte do dia dentro do quarto, de camisola.
Certo dia, Anabela decidiu fazer uma coisa que nunca tinha feito antes. Resolveu abrir a janela do quarto, observar o céu, ouvir o som dos pássaros. Então, percebeu também um prédio na frente de sua janela, que nunca tinha visto antes.
Anabela também viu um rapaz naquele prédio, na sacada. Ele era muito bonito, e a menina ficou observando-o por alguns minutos. Quando o menino percebeu sua presença, Anabela ficou envergonhada e logo fechou as janelas.
Depois dessa grande descoberta, Bela decidiu ir a pracinha ali perto, tomar um ar. A garota se sentou em um banco da praça e sentiu que alguém se sentou ao seu lado. Era o menino.
Após algum tempo conversando, e depois de dias de encontro nas janelas, o menino pediu para namorar com ela, que aceitou. Seu pai não gostava, mas tentava aceitar os encontros do casal.
Anabela estava extremamente apaixonada, e Gustavo também. Aos poucos, o pai de Bela estava aceitando o namoro e percebendo que aquilo só fazia bem a ela.
Anos depois, os dois cresceram e ainda viviam um apaixonante romance, com direito a uma pequena barriga crescendo, que representava o amor deles em uma nova vida. "


Marina, minha afilhada que mora em Crisciúma, escreveu essa redação e tirou a nota máxima. E usou o nome de Anabela para sua personagem, "emprestado", como ela me disse. O tema proposto pela professora era camisola e janela aberta. Não ficou lindo? Acho que temos surgindo aí uma escritora na família...quem sabe?
(pintura de Milton DaCosta...)





"Uma casa que fosse um areal deserto;
que nem casa fosse;



só um lugar


onde o lume foi aceso,


e à sua rodase sentou a alegria;

E aqueceu as mãos;

E partiu porque tinha um destino;

Coisa simples e pouca,
mas destino crescer como árvore,
resistir ao vento,
ao rigor da invernia.




E certa manhã sentir os passos


de abril ou,
quem sabe?,
a floração dos ramos,
que pareciam secos,
e de novo estremecem



com o repentino canto da cotovia"





(outro "roubo" do orkut. eu confesso.)

01 junho 2007


...

É ASSIM QUE TE QUERO, AMOR


É assim que te quero,
amor,
assim,
amor,
é que eu gosto de ti,
tal como te vestes
e como arranjas os cabelos
e como a tua boca sorri,
ágil como a água da fonte
sobre as pedras puras,
é assim que te quero,
amada,
Ao pão não peço que me ensine,
mas antes que não me falte
em cada dia que passa.
Da luz nada sei,
nem donde vem nem para onde vai,
apenas quero que a luz alumie,
e também não peço à noite explicações,
espero-a e envolve-me,
e assim tu pão e luz e sombra és.
Chegastes à minha vida com o que trazias,
feita de luz e pão e sombra,
eu te esperava,
e é assim que preciso de ti,
assim que te amo,
e os que amanhã quiserem ouvir
o que não lhes direi,
que o leiam aqui
e retrocedam hoje
porque é cedo para tais argumentos.
Amanhã dar-lhes-emos
apenas uma folha da árvore do nosso amor,
uma folha que há-de cair sobre a terra
como se a tivessem produzido os nosso lábios,
como um beijo caído das nossas alturas invencíveis
para mostrar o fogo
e a ternura
de um amor verdadeiro.

Pablo Neruda